"A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos."

- Charles Chaplin

30 de abril de 2014

Crítica | Vovô Sem Vergonha


As comédias escrachadas geralmente estão divididas entre dois tipos: as hilárias e as ridículas. Algumas vezes, uma comédia pertence aos dois tipos. Vovô Sem Vergonha é um desses casos.



Sinopse: Irving Zisman (Johnny Knoxville) é um senhor de 86 anos que viaja ao redor dos Estados Unidos ao lado de seu neto Billy, de apenas oito anos. Durante o percurso ele permite que o garoto fume, ofenda as pessoas e beba bebidas alcóolicas, o que gera protestos das pessoas à sua volta.

Jackass já é um grupo conhecido por ser escrachado. Depois de chutes de vacas na genitália e corridas morro abaixo em pedaços de papelão, eles resolveram se dedicar a outras vertentes dentro desse humor. Bad Grandpa é um quadro do programa do Jackass em que um vovô muito sacana, interpretado por Johnny Knoxville, cria situações muito constrangedoras no dia-a-dia. E essa é exatamente a proposta do filme.

No filme, há apenas os atores principais. As pessoas envolvidas nas situações são pessoas normais, que reagem naturalmente a tudo, o que cria hilárias situações e reações a todo momento. A maquiagem de Knoxville é incrível, tendo sido indicada ao Oscar de melhor maquiagem. Ele realmente convence como um homem idoso, seja através da maquiagem ou da interpretação competente.

Knoxville, além de líder da trupe, também é um ator de moderado sucesso em Hollywood. Entre os filmes em que esteve, figuram MIB 2 e O Último Desafio. Aqui em Vovô Sem Vergonha temos um vislumbre de sua competência como ator, que ao lado do talentosíssimo pequeno Jackson Nicoll, gera situações muito interessantes. A química entre os dois é inegável, e sua disposição para a criação das cenas é ótima. Os dois criam uma atuação uniforme para avô e neto, o que torna a situação muito convincente.

O problema maior está no roteiro, se é que existe um. O longa se declara um filme, mas parece mesmo uma compilação de pegadinhas. O fato de os coadjuvante serem pessoas reais cria realmente situações muito engraçadas, mas a todo momento isso acaba criando uma empatia do público, em que pensamos como reagiríamos naquela situação. E é nesse momento que o engraçado beira o constrangedor. Nessa linha tênue, o filme faz feio. Afinal, é difícil rir quando você acha aquela situação desagradável e desconfortável ou até inconveniente. Nada resulta disso além de uma ou outra risada sem graça.

Enquanto temos momentos ótimos como o velório, o casamento e o concurso de beleza (inegavelmente um momento hilário), nos sentimos constrangidos pelas frequentes cenas em que o personagem Irving Zisman tenta "cantar" as mulheres na rua. Chega mesmo a ser ridículo de tão constrangedor, e não é engraçado.


E é aí que voltamos ao questionamento do início da crítica, as comédias escrachadas que são hilárias ou ridículas. Vovô Sem Vergonha está bem no meio. Você ri e também tem um grande sentimento de vergonha alheia, que te impede de rir. Jackass sempre explorou nossa capacidade de rir do "se ferrar" alheio. Mas Vovô Sem Vergonha nos faz rir mais quando se firma como filme, e menos como pegadinha.


É um filme legal. Arranca uma ou outra boa risada, e tem tiradas ótimas e hilárias. Ao mesmo tempo, tem situações repetitivas e constrangedoras. No final das contas, ao invés de comédia da vida real, se enquadra mais no estilo besteirol americano. O vovô do filme pode ser sem vergonha, mas no fim das contas, o público que acaba se sentindo envergonhado. Mas pra quem quer rir um pouco, até que é uma boa.


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